Há alguns dias, por volta de 4h30, um investigador da Polícia Civil paulista postava em sua rede social uma selfie tirada no elevador. Na legenda, algo sobre sair para trabalhar enquanto a cidade dormia. Ainda nas primeiras horas do dia, postava um vídeo curto de algumas viaturas em comboio, com a inscrição "missão cumprida". Pouco depois, em uma nova selfie, explicava sobre o orgulho de ser policial civil e ter libertado mais um refém de sequestro. O texto era simples e objetivo, "operação bem-sucedida, bandidos presos e vítima de volta à família".
Temos assistido a uma escalada de sequestros relâmpagos, roubos de celulares e golpes digitais, em que bandidos se aproveitam da popularidade dos aplicativos bancários e da facilidade do PIX para extorquir um número cada vez maior de vítimas. A onda de crimes tem amedrontado tanto a população, que acabou criando uma situação inusitada: o "celular do banco", um aparelho que concentra aplicativos bancários e em geral é deixado em casa.
Se o perfil do crime mudou, o mesmo vale para a Polícia Civil bandeirante. Se os bandidos se aproveitam das inovações tecnológicas para criar novos golpes, a Polícia Civil acompanha pari passu. Setores importantes da Instituição, como o Departamento de Operações Policiais Estratégicas (DOPE), o Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), o Departamento e Inteligência da Polícia Civil (DIPOL), entre outros, trabalham diuturnamente e com excelência a fim de desbaratar as quadrilhas, prender criminosos, resgatar as vítimas, e, também, evitar novas práticas criminosas.
Hoje, é menos comum as famosas campanas, policiais disfarçados, infiltrados, e outras práticas de outrora. Com a evolução dos crimes, o trabalho policial também se modernizou. A Polícia Civil atua com inteligência, em investigações cada vez mais qualificadas e munidas de tecnologia. Mas cabe dizer que a missão e o orgulho do policial civil seguem iguais.
A Polícia Civil é uma instituição de Estado, e não de governo. Embora pareça um clichê, esse entendimento permite que os policiais civis sigam comprometidos com a população paulista, cumprindo seu dever de proteger o cidadão e buscar uma sociedade mais justa e segura. Em ano eleitoral, quando muitos enxergam na Polícia uma oportunidade meramente eleitoreira, cresce em nós, policiais civis, o desejo de bradar aos quatro ventos que dentro de uma viatura, vestindo um uniforme, empunhando uma arma, há um ser humano que teme por sua vida. Mas, ao mesmo tempo, coloca o temor de lado para combater o crime.
Para além dos problemas que a Polícia Civil enfrenta diariamente, como baixos salários e infraestrutura ruim, é fundamental que os candidatos ao governo do estado compreendam que valorizar o policial civil e investir em um plano de segurança pública eficaz é também fortalecer a sociedade. Um estado seguro atrai investimentos diversos, que geram mais empregos, e incrementam a economia.
Compreender que a Polícia Civil não pertence à nenhum governo, e que tem como destinatário final de seus serviços a população, pode ajudar o próximo governador a enxergar os policiais como aliados na busca por um Estado forte. Investir em tecnologia, qualificação e valorização, garantindo a autonomia da Polícia Civil, é o caminho para combater o crime organizado, reduzir a criminalidade e a sensação de insegurança que assombra o cidadão paulista.
Nós, policiais civis vocacionados, que saímos de nossas casas enquanto a cidade ainda dorme, que nos orgulhamos a cada missão cumprida, seguimos caminhando lado a lado do cidadão. E gostaríamos de ver o próximo governo também ao lado da Polícia Civil e do povo paulista.
Autor: Dario Elias Nassif, delegado de Polícia e secretário-geral da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP)