30/08/2022 às 08h00min - Atualizada em 30/08/2022 às 08h00min

Casal da região vive em Madagascar para fazer o bem

Quando o casal de Ribeirão Preto optou em deixar o Brasil rumo à África, a única vontade era seguir o que ambos já faziam na região – propagar o amor entre as pessoas.
Ricardo Ferreira (62) é policial civil aposentado e durante toda sua vida buscou levar proteção às pessoas. Paralelo à profissão material, calejou as mãos na arte de estendê-las aos sofredores, fazendo-se fiel colaborador de Deus.
Sua esposa, Josie Duarte Ribeiro (42), também militante do bem, é engenheira química com especialização em gestão ambiental. Quando em Ribeirão Preto-SP, participava do movimento espírita e emprestava a voz em um importante coral da cidade. Hoje, ela eleva o tom do amor, oferecendo melodias de afeto.


“O bem vicia”, diz o casal

Madagascar ficou famosa em um filme da DreamWorks, onde um leão, uma girafa e uma zebra participam de inúmeras aventuras.
Ao decidirem-se pela mudança, palmilhando caminhos desconhecidos em prol do bem, e abraçando a ONG Fraternidade Sem Fronteiras, eles sabiam que deixariam familiares e amigos para encontrar uma realidade bem diferente do pequeno mundinho animal apresentado no filme. Encontrariam milhares de pessoas famintas em todos os aspectos.


Casal é voluntário na Ilha de Madagascar

Viver no sul da ilha, na região de Ambovombe é algo peculiar. A rotina do casal mudou bastante. Se antes Josie trabalhava em uma indústria química, como gestora de qualidade, e Ricardo realizava trabalhos policiais, prendendo bandidos e ouvindo histórias de quem estava perdido na vida, hoje eles próprios se encontram com Deus, ao lidarem com tanta miséria e angústia.
 - “Nós sabemos que Deus está no endereço da caridade. Aqui em Madagascar atuo em oficinas de trabalho instaladas ao lado de um bairro, construído pela ONG, e que soma 100 casas. É a chamada ‘cidade da fraternidade’, que acolhe com amor, buscando atenuar as chagas da alma”, explicou Ricardo, que atua em uma dessas oficinas de trabalho, cujo objetivo é capacitar os moradores para que eles possam ter opção de trabalho e renda.


Ricardo em ação na ilha de Madagascar

Já a engenheira química, hoje lida com elementos do coração. Da tabela periódica às combinações do afeto, ela se viu tocada pelo projeto de forma bastante especial, e aproveita seus dias para servir aos irmãos que vivem na comunidade.
- “É tudo muito especial. Fazer o bem, vicia. Sinto-me realizada”, explicou a especialista em gestão ambiental, que venceu quase 10 mil quilômetros até chegar ao Sul da ilha de Madagascar.


“As portas do coração devem estar sempre abertas”, diz Ricardo

Segundo alguns coachs, nós somos a média das cinco pessoas que mais convivemos. Ou seja, influenciamos e somos influenciados o tempo todo. Assim também se dá com Josie e Ricardo.
O policial aposentado - que lidava com pessoas perdidas, e que observou nas últimas décadas, em função do avanço da violência, pessoas se agruparem em condomínios fechados, muros cada vez mais altos serem erguidos, e câmeras e cercas sendo instaladas aos montes - cresceu em uma casa onde, literalmente, a porta ficava sempre aberta para os necessitados, fosse para amparo em tratamento médico ou através de alimento.
Já Josie, companheira de ideal, aproveita as horas para fazer valer o tempo. Ciente de que tudo passa, menos o tesouro das horas perdidas, avança na direção do sofrimento.
- “Joanna de Angelis nos ensinou que aquele que se dedica a enxugar a lágrima do outro, não tem tempo para chorar. Hoje, trabalhando em busca de um mundo melhor, percebo que o bem é algo mágico. Muitos de nós, quando começamos a fazer o bem, não temos ideia do quanto isso nos faz bem. E quando começamos a fazer algum trabalho voluntário, percebemos que só queremos isso, pois somos contagiados por energia misteriosa que nos embala a querer fazer sempre mais”, explicou a engenheira química, que hoje estuda a tabela periódica do bem.


Josie durante atendimento à população carente de Madagascar


Vencer a si mesmo(a)
 
Para oferecerem cada vez mais ao povo sofrido da África, Ricardo e Josie dançam a valsa do aprimoramento moral. Nas baladas do coração, buscam o autoconhecimento.
- “Buscamos seguir uma das lições de Santo Agostinho, que nos convida ao exame de consciência. Diariamente, refletimos sobre nossas atitudes, buscando melhorar dia após dia, buscamos repetir acertos e eliminar erros, enraizados em cada um de nós”, explicou Josie.
Segundo o casal, em Madagascar é fácil manter-se motivado a seguir trabalhando.
- “Você vê uma criança caminhando 18 quilômetros com um irmão nas costas para comer um prato de comida. Isso é motivador para mim. Ficamos tocados. Não tem como não se sensibilizar. E também sei que, além da alimentação física, estamos nutrindo essas crianças com bons exemplos. Temos que trabalhar para eles, para que amanhã eles trabalhem pelo outro. O bem vicia. Isso me mantem motivado”, explicou Ricardo.
 
A esposa Josie, também segue a mesma linha de raciocínio:
- “Quando a gente se coloca no lugar do outro, entendemos um pouco as dores e limitações de cada um. Aqui em Madagascar, eles usam uma frase que diz que a sua dor é a minha dor. A sua alegria é a minha alegria. Então isso me mantem motivada”, ressaltou.


Por um mundo melhor
 
O casal, que tantas pessoas influenciou na região de Ribeirão Preto, subiu no trem da caridade com a missão de servir. Sem qualquer intenção de parada, Josie e Ricardo sabem que a maior distância é aquela entre a cabeça e o coração.
Por isso, embora sejam sabedores dos espinhos existentes ao longo da estrada, eles só pensam em subir.
- “Pretendemos nos tornar pessoas melhores, vencendo manias, erros e defeitos milenares. Nos espelhamos em Jesus, Madre Teresa, Chico Xavier, Bezerra de Menezes, nossos pais e tantos anônimos que nos despertam a consciência. Por isso, visamos nossa evolução intelectual, e principalmente, espiritual”, ressaltou Josie.
Já Ricardo assevera que ambos buscam ajudar na construção de um mundo onde não haja fronteiras, tão pouco passaporte ou distinção por raça. Que haja pontes, ao invés de muros.
- “O tempo não passa em vão, nos ensinou André Luiz. Sei que o mundo parece estar em desordem, mas até dentro do caos, existe uma ordem. Jesus segue no leme e nos convida à segui-lo. Como ele já nos pescou, não queremos outra vida”, finalizou.
 


 
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