A minissérie Adolescência, da Netflix, tem gerado debates intensos nas redes sociais ao retratar, com sensibilidade e realismo, os altos e baixos da juventude. Entre dilemas emocionais, conflitos familiares e a busca por identidade, a produção tem chamado a atenção de especialistas em saúde mental — como a psicóloga Jéssica Fuliotto, que ressalta a importância dos sinais apresentados na trama e como eles refletem situações recorrentes no cotidiano de muitos adolescentes.
Para Fuliotto, um dos principais méritos da série é mostrar que o sofrimento psíquico na adolescência nem sempre é evidente — e que comportamentos preocupantes nem sempre têm origem em um lar disfuncional. “Muitas vezes, o adolescente não verbaliza sua dor, mas ela se manifesta por meio de mudanças bruscas de humor, queda no rendimento escolar, alterações no sono, alimentação desregulada, isolamento social, rompimento de amizades, uso excessivo de tecnologia, comportamentos autodestrutivos ou até mesmo na forma como se comunica, como o uso de emojis, retratado na minissérie”, explica.
O impacto dessas vivências é algo que muitos jovens reconhecem, mesmo sem saber exatamente como expressar. “Às vezes, nem eu entendo o que estou sentindo, e falar com alguém parece mais difícil ainda”, relata uma adolescente de 15 anos, participante de uma oficina conduzida por Fuliotto em uma escola pública.
A psicóloga reforça que é fundamental que pais, professores e adultos de referência estejam atentos e dispostos ao diálogo. “A adolescência é um período de intensas transformações e inseguranças. O acolhimento, a escuta ativa e o apoio psicológico são ferramentas essenciais para que esse momento seja vivido com mais segurança emocional”, afirma. Ela defende que é preciso fomentar conversas que incentivem o autocuidado, a busca por ajuda e o fortalecimento dos vínculos afetivos.
Fuliotto também alerta para riscos que vão além da ficção, como o uso de aplicativos populares entre os jovens. Um deles é o Litmatch, cuja proposta é facilitar a criação de amizades online. No entanto, segundo a psicóloga, adultos têm se infiltrado na plataforma, fingindo ter a mesma idade dos adolescentes. “Em escolas públicas, onde atuo, já recebemos relatos de pais preocupados com essa situação”, conta.
Para a especialista, o sucesso da série pode ser uma oportunidade valiosa para abrir diálogos dentro de casa. “Se um episódio tocou você ou seu filho, aproveite o momento. Pergunte, ouça sem julgamentos, crie um espaço de confiança. Às vezes, esse simples gesto pode fazer toda a diferença”, orienta.
Como forma de contribuir com esse processo, Fuliotto desenvolveu um material educativo voltado ao público adolescente: um gibi que ajuda a compreender as emoções de forma prática e acessível. A publicação está disponível em seu perfil no Instagram: @psi.jessicafuliotto.