Estudo aponta que vínculo de professores com uma única escola melhora o desempenho dos alunos

Segundo o documento, 20% dos professores brasileiros trabalham em duas ou mais escolas, enquanto a média global de nações da OCDE é de apenas 5%

Elaine Alves
16/07/2025 10h47 - Atualizado há 1 semana
Estudo aponta que vínculo de professores com uma única escola melhora o desempenho dos alunos
Manuela Cavadas
Em escolas brasileiras onde mais de 80% dos professores trabalham em tempo integral, estudantes apresentam um ganho de dez pontos em matemática, depois de levar em conta o perfil socioeconômico dos estudantes e das escolas. Este resultado é resultado do último PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) presente no relatório “Perspectivas internacionais para o fortalecimento dos Anos Finais do Ensino Fundamental: diálogos com foco em políticas para o Brasil”, organizado pelo Itaú Social em parceria com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Apesar de revelar efeitos positivos no desempenho do estudante, 20% dos professores dos Anos Finais do Fundamental (6º ao 9º ano) que atuam no Brasil trabalham em duas ou mais escolas, enquanto a média global é de apenas 5%, como mostra o documento. Para Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, a atuação em diferentes instituições de ensino e múltiplas turmas dificulta a formação de vínculos e a disponibilidade para planejamento e realização de projetos mais complexos e engajadores com seus estudantes.

“Cada escola e turma de alunos apresentam dinâmicas e culturas próprias. Portanto, quando um professor dedica tempo exclusivo a uma unidade, tem melhores condições para construir relações positivas com os estudantes, suas famílias e o território, contribuindo para o desenvolvimento de uma comunidade escolar mais coesa”, aponta.

Além da diversidade de turmas, 67% do tempo dos educadores brasileiros é dedicado à sala de aula, com a realização de avaliações e a manutenção da disciplina dos alunos, práticas consideradas como um dos principais fatores de estresse. Já em países da OCDE, a carga horária para essa finalidade é de 46%, sendo o restante destinado para formação, planejamento, fortalecimento entre escola e comunidade, como revela o relatório.

“A colaboração entre pares, peça-chave em estratégias de melhoria do ensino e aprendizagem, também se torna mais viável quando o professor tem dedicação integral a uma escola. A defesa pela escola em tempo integral para o aluno precisa vir acompanhada do tempo integral para o professor também”, argumenta Patricia.

Exemplos positivos
Alguns países vêm implementando políticas públicas para melhorar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional dos docentes. A Inglaterra, por exemplo, lançou em 2016 o “Kit de ferramentas para redução da carga de trabalho” e, em 2023, criou a “Força-tarefa de Redução da Carga de Trabalho”, que conseguiu diminuir em cerca de 1h30 a carga semanal dos professores. As ações incluem a delegação de atividades administrativas e apoio no processo de ensino-aprendizagem, com impactos positivos no bem-estar dos educadores e, consequentemente, no desempenho dos estudantes.


Na Colômbia, a base de dados SIUCE (Sistema de Información Unificado de Convivencia Escolar) auxilia os professores a desenvolverem estratégias para melhorar o clima na escola. As informações sobre estudantes que cometeram infrações na instituição de ensino, que utilizaram substâncias indevidas ou que estão gestantes são compartilhadas em comitês intersetoriais responsáveis pela definição de planos de ação para fortalecer os ambientes escolares.

Recentemente, o programa colombiano identificou que todas as escolas têm acesso a essa base de dados e que as informações têm apoiado diferentes iniciativas pedagógicas relacionadas à violência de gênero, proteção contra as drogas, cyberbullying, racismo e desafios de saúde mental. A expectativa do governo federal é aprimorar a ferramenta oferecendo recursos práticos informativos e kits de ferramentas para professores, além de apoio à colaboração intersetorial.

Já o governo brasileiro lançou em junho de 2024 o programa “Escolas das Adolescências”, com foco nos Anos Finais do Fundamental. A iniciativa prevê ações direcionadas a alunos e professores, como ampliação das formações docentes, indicação de professores referência para turmas em transição do 5º para o 6º ano e incentivo à integração entre turmas, além de outras estratégias previstas nos guias e nas estratégias de governança elaborados pelo MEC (Ministério da Educação). 

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ELAINE CRISTINA ALVES DE OLIVEIRA
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