O TDAH é um dos transtornos que os pais devem observar durante o crescimento dos filhos. O A Voz de Ribeirão conversou com o psicólogo Dr. Bruno Pellicani, que explicou quais comportamentos devem ser observados.
A Voz de Ribeirão: Por que algumas crianças ficam calmas em casa, e nas escolas se tornam agitadas? Dr. Bruno Pellicani: É importante entender que o comportamento da criança é muito influenciado pelo meio ambiente onde convive, além de questões genéticas. Às vezes, em casa há um ambiente mais calmo, e na escola um ambiente diferente com mais estímulos, o que faz com que ela alterne seu comportamento. Vale lembrar que a criança é como uma esponja. Tudo o que absorve do ambiente ela acaba reproduzindo. Então se ela tem muito estímulo e aqui é importante também falar sobre a alimentação, com excesso em açúcar, como doces e refrigerantes, isso pode acarretar em um comportamento mais agitado.
A Voz de Ribeirão: Por que algumas crianças têm dificuldades em fazer tarefas da escola? Dr. Bruno Pellicani: O primeiro critério a ser avaliado é a parte fisiológica. Há uma questão oftalmológica, onde pacientes tinham dificuldade de leitura. Além disso, é preciso investigar se há atraso no desenvolvimento cognitivo dela. Não havendo nenhuma dessas questões temos que investigar se ela está sendo bem cuidada, tanto nutricional quanto em questões emocionais afetivas, e se a escola está dentro do ensino proposto as capacidades cognitivas dela. Exemplo, não adianta eu colocar uma tarefa de equação de segundo grau para uma criança da primeira série, porque ela não vai conseguir entender. Então é adequar as necessidades de aprendizado às características e capacidades da criança.
A Voz de Ribeirão: Qual a explicação para a criança que não consegue obedecer ou se comportar? Dr. Bruno Pellicani: Em alguns casos é necessário investigar se há um Transtorno Desafiador Opositor (TOD). Se há esse transtorno, então há de se pensar em um acompanhamento psicopedagógico em conjunto com o tratamento medicamentoso se o caso assim exigir. O que pode haver também são bases psicológicas que fazem com que a criança necessite através da desobediência e de seus comportamentos aversivos, de ter ganhos secundários, ou seja, o comportamento negativo se sustenta para além das punições (castigos) por um ganho secundário que em muitas das vezes é o ter atenção dos pais ou dos que estão consigo. Ainda mais hoje, onde temos uma geração toda voltada ao celular. Não só as crianças, mas os pais também, e assim vemos em algumas famílias onde não há crianças hiperativas, mas pais hiperpassivos, que cansados dos dia a dia do trabalho chegam em casa e descansam em suas mídias sociais e deixam a criança sem a devida atenção. Por isso é bom investigar quando há um comportamento muito disruptivo ou anormal, se há possibilidade de TOD, TDAH ou ambos juntos, que faz com que a pessoa realmente não consiga se concentrar, mas também se há alguma outra questão por trás de ganhos secundários, ou seja, aspectos psicológicos da vida social e familiar da criança, que estão influenciando neste comportamento para o ganho secundário.
A Voz de Ribeirão: Como saber se meu filho tem TDAH? Dr. Bruno Pellicani: Um aspecto importante do TDAH é que ele não pode ocorrer só em casa ou só na escola. A criança que tem a patologia do TDAH se comporta da mesma forma agitada e desatenciosa em todos os ambientes. Se ela é calma em casa, então a chance é baixa de ser TDAH. Por isso é preciso investigar de maneira correta para tratar da melhor maneira. Então a primeira questão é saber se a criança apresenta o mesmo comportamento em todos os ambientes. A segunda questão é fazer uma avaliação neuropsicológica, através de testes específicos que vão avaliar tanto a atenção quanto a hiperatividade. Com essa avaliação é possível levantar os elementos, para junto com o médico pediatra fechar o diagnóstico TDAH. Ressaltando que a pessoa deve ser avaliada por um especialista, e não investigar através da internet ou de revistas.
A Voz de Ribeirão: Adolescentes e adultos também sofrem com TDAH? Dr. Bruno Pellicani: Tanto adolescentes, quanto adultos, podem apresentar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O que acontece em muitos casos é a questão do diagnóstico precoce. Hoje em dia há um boom de TDAH, mas o transtorno costuma ser confundido com transtornos de ansiedade. É importante ressaltar que apesar da alta de TDAH, ainda há uma subnotificação do transtorno. Ou seja, há muito mais pessoas que realmente sofrem com o transtorno e que não são tratadas como deveriam. Lembrando que antigamente, muitas crianças não eram diagnosticadas adequadamente. As pessoas entendiam como “fase da infância” e isso ia passando ao longo do tempo. Hoje em dia é mais fácil ter acesso às informações sobre a patologia e principalmente a maioria das escolas também está mais atenta às crianças com comportamentos desatentos e hiperativos. Por isso o TDAH pode sim se apresentar, tanto em adolescentes, quanto em adultos, porque não foram, em sua grande maioria, diagnosticados corretamente durante a infância.
A Voz de Ribeirão: Quais os sintomas em adolescentes e adultos? Dr. Bruno Pellicani: Um sintoma típico é a dificuldade de se concentrar em uma palestra, por exemplo. Nessas situações, a pessoa fica atenta a tudo, ao pássaro, aos outros que estão ao lado, menos ao conteúdo. Também tem a dificuldade de seguir instruções, com o paciente fazendo as coisas da forma dela. Além disso ela terá muita dificuldade de organização. Esses pacientes, geralmente, tem o quarto bastante desorganizado, ou perdem objetos facilmente. Há dificuldade de manter uma rotina, e muitos não conseguem manter atenção em uma conversa, passando a impressão de estar “no mundo da lua”. Ressaltando que, para ser configurado TDAH, deve-se notar sempre a questão da atenção somada a hiperatividade.