22/09/2022 às 09h00min - Atualizada em 22/09/2022 às 09h00min

“Cloroquination” será lançado na Livraria da Travessa em Ribeirão Preto (SP)

Em setembro, a editora Paraquedas, selo da Claraboia, lança o livro “Cloroquination - Como o Brasil se tornou o país da cloroquina e de outras falsas curas para a covid-19", da jornalista Chloé Pinheiro e do farmacêutico e doutor em Ciências pela UFRJ Flavio Emery. É o primeiro livro que mapeia em profundidade as movimentações políticas, sociais, econômicas e “científicas” que aconteceram para tornar o Brasil o epicentro do fenômeno.  O evento de lançamento está marcado para dia 27, às 19h, na Livraria da Travessa, em Ribeirão Preto (SP), localizada no Ribeirão Shopping (Av. Coronel Fernando Ferreira Leite, 1.540, Jardim Califórnia).
 
Livro pioneiro explica como o Brasil virou o país da cloroquina
 
No último ano, Chloé Pinheiro e Flavio Emery conversaram com mais de 30 fontes para compreender como o Brasil virou o “país da cloroquina”, incluindo políticos, médicos, cientistas, psicólogos, sociólogos, pacientes, vítimas e advogados. Entre eles, nomes como Luiz Henrique Mandetta, Natalia Pasternak, Pedro Hallal, médicos da Prevent Senior e da Hapvida e outros personagens importantes. 
 
“A eles, perguntamos: haveria um kit Covid sem a forte atuação do governo federal? E descobrimos que, infelizmente, é provável que vivêssemos algo parecido. Ora, várias das bases do fenômeno fazem parte de uma cultura antiga no país, perpetuando-se diante das doenças crônicas para as quais nem sempre há tratamentos eficazes”, escrevem os autores de “Cloroquination”. “Nada disso é novo. Contudo, o aparelhamento do Estado em favor de uma cura mágica deu outra dimensão à coisa. Sua rede bem engendrada de desinformação fez o kit covid transformar-se em símbolo do Brasil nos anos 2020-22: uma ferramenta de poder, uma bandeira a ser defendida por um séquito de fiéis. Enfim, a cloroquinação de todo um país como um processo em que se misturam ignorância, estupidez e má-fé”, apontam. 
 
Ao longo dos capítulos, eles mapeiam e relacionam diversos fatores que colaboraram para a ampla difusão de remédios ineficazes e outras soluções anticientíficas, culminando na morte de milhares de brasileiros durante a pandemia de covid-19. Entre eles, pesa a atuação de uma classe médica corporativista, com formação científica deficitária; a penetração da pseudociência na política e nas universidades, que já havia sido notada com o escândalo da fosfoetanolamina, a chamada “pílula do câncer”; a vontade do brasileiro de acreditar em algo mesmo quando evidências apontam o contrário; uma relação banalizada e quase religiosa com os remédios; o uso de cobaias para experimentos de "tratamentos precoces”; a desinformação disseminada online; e, acima de tudo, o fato de ter muita gente lucrando com tudo isso.
 
“A aposta de remédios ineficazes, como a cloroquina, e a negação das vacinas, não são apenas efeitos colaterais da desinformação, mas sintomas de uma crise institucional profunda, que ameaça as bases da nossa democracia e coloca em risco à população, ao transformar a saúde pública em uma mera arena da guerra ideológica”, escrevem. 
 
Além do “kit covid”, no entanto, os autores de “Cloroquination” frisam que há fatos mais estarrecedores e menos conhecidos a serem registrados e investigados. “É o caso dos experimentos irregulares contra a covid com medicamentos para câncer de próstata avançado (alguns não aprovados sequer para seu uso original), os acordos feitos com dinheiro público, os investimentos de farmacêuticas em publicidade irregular, a aposta em cloroquina em vez de oxigênio para solucionar o colapso de Manaus, que matou ao menos 30 pessoas sufocadas em dois dias, entre tantos outros exemplos”, exemplificam, na obra. 
 
A realização do livro foi possível graças a uma bolsa para a produção de trabalhos jornalísticos em temas de ciência, a qual foi concedida para Chloé Pinheiro pela Fundación Gabo e pelo Instituto Serrapilheira, com o apoio do Escritório Regional de Ciências da Unesco para a América Latina e Caribe.
 
“Cloroquination” em números
 
  1. Só no Brasil, até junho de 2021, entre 120 mil e 400 mil mortes poderiam ter sido evitadas, apontam estimativas feitas pelo epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ou seja, quatro em cada cinco pessoas poderiam estar vivas;
  2. Apesar de menos falada pela imprensa, a ivermectina vendeu muito mais que a cloroquina. Só no primeiro ano de pandemia, o remédio para piolhos apresentou números astronômicos, chegando à demanda de 82 milhões de embalagens, muito à frente da hidroxicloroquina com 2,7 milhões;
  3. A Prevent Senior, que adotou amplamente o uso do kit covid e chegou a ser investigada na CPI e em outras esferas, saiu sem nenhum ferimento dessa história. Ela ganhou 88 mil novos beneficiários entre março de 2020 e junho de 2021. Em 2020, o convênio faturou R$4,3 bilhões, um crescimento de 19% em relação a 2019, e teve lucro líquido de R$495 milhões, 14% superior ao ano anterior – bem acima da média do setor, 2,4%. Enquanto motoboys entregavam kits de remédios nas casas dos usuários sem sequer saber se eles tinham covid-19, o valor de mercado da empresa subiu 30%, resultado tão animador que permitiu sua planejada expansão;
  4. Das 33 indústrias que produzem ao menos um dos componentes do kit covid, seis tiveram ganhos maiores que 500% em 2020, quando comparados ao ano anterior;
  5. Dados da CPI mostram que, em 2020, somente os gastos públicos com cloroquina e hidroxicloroquina foram 16 vezes maiores do que em 2019, totalizando mais de 30 milhões de reais. Os gastos da União, considerando os outros medicamentos ineficazes, chegaram a R$ 90 milhões só até janeiro de 2021.

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