O futebol brasileiro vive um momento de profunda transformação na gestão de seus clubes. Cada vez mais, as dívidas acumuladas e a falta de planejamento financeiro colocam em risco a sobrevivência de instituições históricas. Enquanto alguns times buscam na formação de Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) uma saída para retomar o equilíbrio e o protagonismo, outros ainda enfrentam crises severas e dívidas recordes.
Um dos casos mais recentes de reestruturação é o do Vasco da Gama, que teve sua recuperação judicial aprovada pela Justiça. O clube tenta reorganizar suas obrigações financeiras e atrair novos investimentos, após se tornar uma SAF em 2022. O processo é visto como um modelo de sobrevivência diante da realidade de muitos clubes brasileiros.
Em contrapartida, o Corinthians vive um cenário oposto. O clube atingiu dívida recorde, ultrapassando a casa dos R$ 2 bilhões, e enfrenta dificuldades para equilibrar receitas e despesas, o que levanta dúvidas sobre o futuro financeiro da instituição.
Segundo o advogado Gianlucca Contiero Murari, especialista em direito empresarial e integrante do escritório Dosso Toledo Advogados, a situação dos clubes exige uma mudança de mentalidade na gestão esportiva.
-“O modelo de administração tradicional, baseado em gestões amadoras e decisões políticas, se mostra insustentável. É preciso profissionalizar a gestão, adotar práticas de compliance e buscar alternativas jurídicas que permitam reestruturar as dívidas sem comprometer a operação do clube”, explica.
Murari ressalta que acordos extrajudiciais podem ser um caminho viável e menos traumático para entidades esportivas com passivos elevados.
-“Os acordos extrajudiciais oferecem uma forma de negociação mais célere e flexível, que evita longos processos judiciais e permite preservar a imagem institucional do clube. Em muitos casos, é possível chegar a um plano de pagamento escalonado e sustentável, sem recorrer à recuperação judicial”, afirma.
O especialista lembra que o modelo de SAF, embora seja uma ferramenta importante, não é a única solução para os clubes endividados.
-“Transformar-se em SAF pode atrair investimentos e melhorar a governança, mas o sucesso depende da qualidade da gestão e da transparência. Sem planejamento financeiro e jurídico adequado, o risco de repetição de erros permanece”, completa Murari.
Para o advogado, o caso do Corinthians é emblemático e deve servir de alerta para outras instituições.
- “A dívida bilionária é reflexo de anos de desorganização e ausência de planejamento. O clube precisa repensar sua estrutura administrativa e buscar, o quanto antes, instrumentos de negociação que evitem o agravamento do quadro. A reestruturação não é apenas financeira, mas de gestão”, conclui.