Na opinião do professor e coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), o Brasil o deve aproveitar bons ventos nos próximos meses, com perspectivas de queda nas taxas de juros internas, possível desvalorização internacional do dólar e retomada do crescimento.
"No início do ano houve um certo pessimismo exagerado e generalizado do mercado com as perspectivas da economia brasileira sob um novo governo Lula. A resposta com o arcabouço fiscal surpreendeu a todos positivamente e explica parte dessa melhoria na economia", opina El Khatib.
Mas afinal de conta, o que contribuiu para os bons resultados da economia brasileira?
DÓLAR EM QUEDA
Segundo o docente, os principais fatores para a valorização do real frente ao dólar são a percepção de redução do risco fiscal, a desaceleração inflacionária mundo afora, além de uma provável pausa no aperto monetário nos Estados Unidos.
"A taxa Selic em 13,75% tem impulsionado a entrada de capital estrangeiro, atraído pelos altos rendimentos da renda fixa. Com mais dólares chegando ao país, a maior oferta da moeda americana joga a cotação para baixo frente ao real. Entretanto, vale ressaltar que os cortes na taxa Selic, provavelmente no segundo semestre de 2023, podem levar a uma fuga de capital e, consequentemente, à valorização do dólar em relação ao real, fazendo com que a cotação aumente", pontua.
INFLAÇÃO EM QUEDA
Ahmed explica que a queda no preço das commodities (bens primários com cotação internacional) tem contribuído para segurar a inflação. Somado a isso, a política de aumento da Selic nos últimos meses começa a surtir algum efeito.
"Acredito que esse movimento continue nos próximos meses com, inclusive, redução na taxa de juros a partir do segundo semestre de 2023, entre agosto e setembro. Para a próxima reunião de junho, acredito que o Banco Central deixará a taxa básica de juros inalterada".
PIB VAI CRESCER?
Ahmed acrescenta que contribuíram positivamente para a melhora das expectativas sobre o PIB deste ano o salto de 1,9% da economia no primeiro trimestre, puxado pelo crescimento de 21,6% da agropecuária, a maior alta em quase três décadas, sendo beneficiado de uma boa safra e de uma alta no preço das commodities. Mas o financista afirma que é preciso ter os pés no chão.
"Ainda não temos certeza sobre a efetividade da política econômica do novo governo, sobretudo em relação a estímulos e incentivos ao consumo, como no caso da indústria automobilística. O novo arcabouço fiscal do governo federal é relativamente ousado, mas ainda é cedo para afirmar que a nova regra vai melhorar as contas públicas nos médio e longo prazos, sobretudo pelo fato de que seu sucesso dependerá, em última instância, da atividade econômica".
O futuro do PIB também depende de esforços doméstico, como a reforma tributária, que promete ser a grande agenda do governo Lula no Congresso para os próximos meses. Já quando se pensa em fatores externos, existe o temor de ventos ruins do exterior, com os Estados Unidos podendo entrar em recessão.
"Os juros e a inflação nos países industrializados seguem em alta. Uma crise no exterior poderia impactar o crescimento do Brasil e nossa atual euforia econômica se tornar apenas uma brisa momentânea", acrescenta.
DÍVIDA PÚBLICA SEGUE ALTA
Segundo Ahmed, o principal problema histórico da economia do país tem sido a alta dívida pública brasileira. O alto endividamento levanta dúvidas sobre a capacidade futura de o governo honrar seus compromissos, o que traz consequências para todo o ambiente econômico: as taxas de juros sobem (por conta dos riscos maiores nos empréstimos) e a expectativa de inflação dispara (já que a forma mais fácil de o governo honrar suas dívidas seria expandindo a quantidade de moeda na economia, o que gera inflação). Como consequência, o ambiente econômico fica comprometido, frustrando as expectativas positivas de crescimento, renda e emprego.
"Para se ter uma ideia, o endividamento do PIB brasileiro está hoje em 73% do Produto Interno Bruto e acredito que, caso não tenhamos reformas estruturantes, esse percentual pode subir por causa de medidas que eventualmente possam ser tomadas pelo governo. Por essa razão, tanta ênfase é dada para a arrecadação com impostos e despesas com gastos do governo — nos anos em que o governo tem arrecadação maior do que as suas despesas (superávit fiscal), a trajetória da dívida brasileira cai", exemplifica.
O professor finaliza lembrado que os setores de serviços e indústria permaneceram relativamente estagnados, despertando dúvidas sobre a robustez do crescimento do Brasil nos próximos meses. Portanto, apesar dos fortes ventos favoráveis, isso talvez não seja suficiente para resolver os problemas da economia brasileira de forma sustentável.