Se a questão de saúde mental não era um assunto tão presente para os chamados baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, geração X (1965-1980) e até os millennials (1981-1996), isso mudou completamente na geração Z (a partir de 1997). As questões psicológicas estão, inclusive, dentre os principais problemas dessa população no mercado de trabalho.
De acordo com uma pesquisa divulgada pela healthtech Vittude, 36,4% dos trabalhadores que têm até 25 anos sofrem com estresse; 27,7% têm ansiedade e outros 27,5% relatam ter depressão.
Segundo dados do Ministério da Previdência Social, em 2023 foram concedidos 288,8 mil benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais e comportamentais. O número aumentou 38% na comparação com 2022, período em que foram concedidos 209,1 mil benefícios relacionados a questões psicológicas.
E no caso da geração Z, os problemas de saúde mental não se tornam latentes somente quando eles já estão inseridos no mercado de trabalho. Uma pesquisa da instituição Prince’s Trust, do Reino Unido, evidenciou que os jovens são afetados por questões psíquicas antes mesmo de conseguir uma vaga.
O levantamento mostrou que pessoas entre 16 a 25 anos estão em um ciclo vicioso no qual o desemprego afeta a saúde mental e que, ao mesmo tempo, muitos trabalhos os estão os sobrecarregando a ponto de pedirem afastamento ou se demitirem.
A situação faz com que esse recorte da população tenha dificuldade de lidar com entrevistas de emprego, por exemplo. Em outra situação, muitos dos entrevistados revelaram que se sentem prejudicados e com os sonhos distantes porque não conseguem lidar com a situação econômica complicada, que os impede de comprar roupas novas para trabalhar ou até mesmo bancar o transporte.
O doutor Marco Aurélio Bussacarini, especialista em Medicina Ocupacional pela USP e CEO fundador da Aventus Ocupacional — empresa que realiza Gestão em Saúde e Segurança Ocupacional — explica que a tecnologia é uma das responsáveis pela deterioração da saúde mental não só de trabalhadores, mas estudantes e todos os outros jovens da geração Z.
“Esse público é especialmente suscetível a problemas de saúde mental em praticamente todos os espaços sociais que frequentam por causa da combinação de um mercado altamente competitivo, uma economia ruim, a constante comparação nas redes sociais, a falta de uma separação clara entre vida pessoal e profissional e em alguns casos até mesmo a dificuldade de se relacionar. Tudo isso misturado gera aumento da ansiedade, do estresse e uma pressão constante por desempenho que muitos deles não estão acostumados”, argumenta.
Quais os sinais de alerta para questões mentais no trabalho?
Além do estresse, ansiedade e depressão, jovens e pessoas de outras faixas etárias também podem sofrer de burnout. Incluída em 2022 na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), a doença do trabalho é resultado de um esgotamento mental.
Situações como assédio moral ou sexual, falta de reconhecimento de um bom trabalho e desrespeito em um ambiente profissional podem acarretar burnout.
Neste sentido, o doutor Marco Aurélio Bussacarini destaca que um ou mais dos seguintes sintomas podem aparecer em quem está sofrendo de burnout:
“Estes são sintomas associados ao burnout, mas que podem estar correlacionados a outras questões que levam à piora da saúde mental. Um jovem que sofre com sobrecarga no trabalho ou que tem incertezas financeiras e sobre o futuro pode acabar tendo problemas psíquicos e psiquiátricos”, destaca.
O especialista ressalta que todos esses sinais devem servir de alerta para familiares e amigos intervirem e ajudarem na busca de cuidados profissionais. Ele lembra que quanto mais cedo uma doença é descoberta, mais rápido ela tende a ser curada.
Como as empresas podem melhorar a saúde mental de colaboradores
Os dilemas enfrentados pela Geração Z representam um desafio para as outras gerações, principalmente para a Geração X, que está em muitos cargos de liderança, e para os millennials, que já estão alcançando altos postos de trabalho.
E para lidar com esses trabalhadores mais jovens, é preciso saber que eles têm um perfil bastante diferente quando comparados a pessoas mais velhas.
Dentre as principais características, a Geração Z avalia com mais importância valores como propósito, diversidade, justiça social e sustentabilidade. Outra questão importante é que jovens adultos consideram essencial o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
“De maneira pejorativa, alguns dizem que pessoas que estão entrando no mercado de trabalho são sensíveis no ambiente corporativo ou que ‘não gostam de trabalhar’. Na verdade, essa geração encara o trabalho de forma diferente e pensa que a atuação profissional serve como uma ferramenta de transformação social e do mundo e não apenas um meio de acumular riqueza”, destaca o doutor Marco Aurélio Bussacarini.
Para lidar com as expectativas de flexibilidade e transparência dos mais jovens, as empresas precisam ter programas e ações claras com foco na melhora da saúde emocional de seus colaboradores.
O especialista em Medicina Ocupacional diz que as companhias precisam ter políticas de horário de trabalho e período de descanso, estabelecer uma cultura de feedback e reconhecimento, combater a cultura de produtividade excessiva e tóxica e promover a diversidade e inclusão.
“Também é essencial que as empresas tenham programas bem estruturados que ofereçam apoio à saúde mental, incluindo planos de saúde, workshops e debates sobre a importância da terapia e sessões de acolhimento”, destaca.
Como melhorar a saúde mental dos colaboradores no ambiente de trabalho
Para apoiar executivos na promoção de um ambiente de trabalho mais saudável, o Dr. Marco apresenta estratégias de prevenção para combater a deterioração da saúde mental dos colaboradores, confira:
“Não podemos tornar a questão da saúde mental entre a geração Z em um estereótipo. Essas medidas são fundamentais para colaboradores de qualquer idade, promovendo um ambiente saudável e garantindo o bem-estar e produtividade de suas equipes”, conclui.
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GIOVANA PIGNATI
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