Espaço de autocuidado, saúde, convivência e superação pessoal, a academia de ginástica ainda é, para muitas pessoas com deficiência (PCDs), um território inacessível. Seja pela falta de estrutura física adaptada, pela ausência de profissionais preparados ou pelo preconceito velado, o direito ao exercício físico ainda encontra barreiras estruturais e simbólicas que limitam o acesso de milhões de brasileiros.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 8,4 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência motora, enquanto 6,5 milhões têm deficiência visual e 2,3 milhões apresentam deficiência auditiva severa (Censo 2022). No total, estima-se que cerca de 17,2 milhões de brasileiros, o equivalente a quase 9% da população, sejam PCDs.
Entretanto, um estudo do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) revela que menos de 5% das academias no Brasil contam com estrutura minimamente acessível, incluindo rampas, banheiros adaptados e equipamentos com ajustes ergonômicos. A maioria dos espaços não possui sequer sinalização adequada ou instrutores com formação específica para atender esse público.
“Existe uma romantização da superação no universo fitness, como se a pessoa com deficiência tivesse que provar o tempo inteiro que é capaz. Mas não se trata disso. Se trata de direito ao corpo, à autonomia e ao bem-estar como qualquer outra pessoa”, afirma Larissa Ciodaro, educadora física especializada em treinamento funcional para populações especiais.
Larissa alerta que o maior desafio nem sempre é a estrutura física: “Muitas vezes, o que impede o acesso é o olhar capacitista: a ideia de que a pessoa com deficiência é frágil demais para treinar ou que não se encaixa naquele espaço. E isso afasta, intimida e adoece.”
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconhece o exercício físico como uma ferramenta de prevenção e tratamento para mais de 25 doenças crônicas, incluindo obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2 e depressão. Para pessoas com deficiência, os benefícios vão além do físico: envolvem estímulos motores, sociais, cognitivos e emocionais.
De acordo com pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), pessoas com deficiência que praticam atividade física regularmente têm redução de até 70% nos riscos de desenvolver doenças cardiovasculares e apresentam aumento significativo nos níveis de autoestima e autonomia funcional.
Ainda assim, a exclusão é real e cotidiana. Um levantamento do Instituto Locomotiva (2023) revela que 78% das pessoas com deficiência no Brasil sentem que não são bem-vindas em espaços de lazer e atividade física. E mais: 63% afirmam que já abandonaram academias por falta de estrutura ou por constrangimento durante o atendimento.
“Quando a gente pensa numa academia como espaço de inclusão, precisa falar sobre formação continuada dos profissionais, sobre respeito à individualidade e sobre escuta ativa. Não é sobre 'dar conta' de um aluno PCD, mas sobre acolher esse aluno como parte legítima da comunidade que está ali", completa Larissa.
Ela defende que a inclusão nas academias não deve depender apenas de iniciativas individuais, mas sim de políticas públicas que incentivem a acessibilidade estrutural, ofereçam capacitação gratuita e estimulem parcerias com entidades especializadas.
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PATRICK BRYAN FERREIRA NASCIMENTO
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