O documentário "Não é a Primeira Vez que Lutamos Pelo Nosso Amor", realizado pela Produtora Couro de Rato, dirigido por Luis Carlos de Alencar e produzido por Vladimir Seixas, acaba de ser selecionado para o Festival do Rio 2022 e fará sua estreia mundial na Première Brasil: Competitivas - Longas documentários, em outubro.
O longa relata histórias de perseguições e violências contra a população LGBTQIA+ durante a ditadura brasileira e como as suas lutas por resistência formaram o Movimento LGBTQIA+ brasileiro. Foi nesse período que, sendo alvos do Regime Ditatorial, resistiram e lutaram por modos de viver que apontaram para novos projetos de sociedade e, consequentemente, contribuíram significativamente para a luta pela redemocratização do País. Além do resgate dessas lutas do passado, o filme também se volta para os contrastes dos tempos atuais. Ao mesmo tempo em que milhões de pessoas saem às ruas todos os anos para participarem das Paradas do Orgulho LGBTQIA+, a maior manifestação pública da luta LGBTQIA+ por cidadania, o Brasil é um dos países com o maior índice de violência contra as minorias sexuais, com grande avanço do neoconservadorismo cristão e das políticas morais da extrema direita, ideologicamente contrários ao modo de ser e de viver das pessoas LGBTQIA+.
"Este documentário visa justamente lembrar aos jovens que nossa história de resistência é muito antiga e que precisamos conhecer nossa memória para elaborar melhor nossa luta atual, mantendo e ampliando nossa liberdade. Eles vão passar, nós vamos continuar. O trabalho narra, principalmente para as gerações mais novas, que não é a primeira vez que nós, minorias sexuais e de gênero, passamos por esses problemas e lutamos pelo nosso direito de amar. Temos uma história da qual devemos nos orgulhar e tirar o acúmulo de experiência para continuar a luta. Esse filme já operou como uma obra de fortalecimento e estímulo ainda na sua produção, pelo menos para as pessoas que trabalharam nele", destaca Luis Carlos de Alencar.
A pesquisa para o documentário teve início em 2015, motivada pela ausência desse recorte na cinematografia brasileira. Conta com imagens raras fornecidas, em muitos casos, pelas próprias pessoas entrevistadas, como fotos pessoais, registros de reuniões, matérias de jornais alternativos e trechos de audiovisuais. Dentro do rico material exibido no documentário, temos também conteúdos de pesquisadores acadêmicos, acervos mantidos por militantes LGBTQIA+ e outros documentos de fotojornalistas e cineastas brasileiros que registraram momentos fundamentais do período retratado no filme.
A produção conta com membros de diversos grupos e frentes da luta LGBTQIA+ ao longo das últimas décadas, como o escritor João Silvério Trevisan (Grupo SOMOS SP), a historiadora e ativista Marisa Fernandes (Grupo SOMOS SP), o ativista LGBTQIA+ e pioneiro Jorge Caê Rodrigues (Grupo SOMOS RJ), o ativista Wilson Mandela (Grupo Gay da Bahia), Luiz Mott, um dos mais conhecidos ativistas brasileiros da causa LGBTQIA+, também membro do Grupo Gay da Bahia, e Alexandre Ribondi, do Grupo Beijo Livre (Brasília). Além dos personagens brasileiros, o filme conta com membros de grupos internacionais como o escritor Gary Alinder, do Gay Liberation Front de São Francisco, Karla Jay, pioneira no campo dos estudos de lésbicas e gays nos Estados Unidos e membra do Gay Liberation Front de Nova Iorque, e Marcelo Benítez e Nestor Latronico, membros da Frente de Liberación Homosexual, de Buenos Aires.
Importante destacar também as participações de Jaqueline Gomes de Jesus, professora universitária e presidente da Associação Brasileira de Estudos da Trans-Homocultura, Sissy Kelly, coordenadora da Rede Trans Brasil (Minas Gerais), Rita Colaço, historiadora integrante do Grupo de Atuação e Afirmação Gay, no Rio de Janeiro e uma das consultoras de roteiro, e Renan Quinalha, professor universitário e autor do livro "Contra a moral e os bons costumes: A ditadura e a repressão à comunidade LGBT".
Logo após o resultado das eleições presidenciais de 2018 e diante do avanço de grupos e de ideais fascistas, as filmagens foram antecipadas como uma resposta de resistência. Foi contra o clima crescente de medo e de terror instalado à época que a equipe, formada por pessoas LGBTQIA+, iniciou não somente a construção do filme, mas também a própria experiência de seu reerguimento pessoal diante da crescente opressão contra as minorias. As filmagens foram realizadas em seis cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Buenos Aires, Nova Iorque, São Francisco e Los Angeles. Entre 2020 e 2021, em meio às restrições sanitárias da pandemia da Covid-19, e diante de todas as limitações e paralisações causadas pela forma negligente pela qual o Presidente conduziu esta crise sanitária, foi realizada a montagem e finalização do longa.
"O retorno ao passado ditatorial do país com esse recorte da luta LGBTQIA+ nos oferece olhares significativos sobre a nova onda conservadora que cresce desordenadamente e mostra que não é a primeira vez que lutamos e resistimos. Uma sociedade só é livre e uma democracia só é plena se os desejos forem vividos socialmente, como uma dimensão política da própria vida em sociedade", finaliza o diretor.
O longa foi coproduzido pelo canal CINEBRASILTV, com fomento do Fundo Setorial do Audiovisual / Prodav.