Recesso escolar expõe desafios no acesso a atividades culturais, esportivas e educativas

Crianças de famílias com maior renda acumulam até 2.232 horas extras de aprendizado nas férias, enquanto estudantes de baixa renda seguem sem acesso a atividades estruturadas, diz estudo

Elaine Alves
16/07/2025 10h51 - Atualizado há 1 semana
Recesso escolar expõe desafios no acesso a atividades culturais, esportivas e educativas
Rafael Arbex
Com o início do recesso escolar, a desigualdade no acesso a atividades educativas, esportivas e culturais ganha ainda mais evidência no Brasil. Uma pesquisa do Itaú Social, em parceria com o Plano CDE, revela que, até o final do Ensino Fundamental, crianças de famílias com maior poder aquisitivo podem acumular mais de 7 mil horas adicionais de aprendizado em comparação às que vivem em situação de vulnerabilidade — sendo 2.232 horas apenas durante o período de férias.

O levantamento “Cada Hora Importa” mostra que o tempo fora da sala de aula também pode contribuir significativamente para o processo de aprendizagem, mas não está igualmente disponível para todos. Famílias com maior renda conseguem investir em colônias de férias, cursos, viagens e programações culturais. Já aquelas em condição de vulnerabilidade enfrentam limitações como falta de recursos, tempo e acesso a opções gratuitas.

“O tempo fora da escola representa uma oportunidade valiosa para que crianças e adolescentes pratiquem atividades esportivas, musicais e literárias, além de frequentarem espaços culturais como teatros, museus e cinemas, experiências que podem trazer benefícios significativos para o desenvolvimento emocional e cognitivo. No entanto, o acesso a essas atividades ainda é marcado por desigualdades. Por isso, é essencial que as políticas públicas assegurem a todas as famílias, independentemente do território em que vivem ou da classe social, o direito a essas opções de lazer e enriquecimento cultural”, afirma Juliana Yade, coordenadora de Educação Infantil do Itaú Social.

Divulgado em 2021, o estudo analisou dados nacionais de diferentes fontes, como a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e o Censo Escolar de 2019, traçando um retrato da distância entre dois extremos: crianças com renda familiar média de R$ 145 per capita e aquelas com R$ 6.929. O mapeamento aponta que o tempo de aprendizagem fora da escola está diretamente ligado à renda familiar — um fator decisivo no percurso educacional de milhões de estudantes brasileiros.

Atividades nas férias
Enquanto uma parte das crianças e adolescentes participa de atividades pagas em clubes ou escolas particulares, o acesso de estudantes mais vulneráveis depende quase exclusivamente de iniciativas gratuitas. Em Coruripe, município alagoano a 90 km de Maceió, o projeto “Farol da Cidadania” é uma dessas alternativas. Durante todo o ano, inclusive nas férias, o projeto oferece oficinas culturais gratuitas como capoeira, danças afro-brasileiras, contação de histórias e rodas de conversa sobre identidade racial.

“Em cada ciclo do projeto, buscamos contribuir para que crianças e adolescentes permaneçam na escola. Acreditamos que as oficinas de arte e esporte oferecidas pela organização são fundamentais para garantir seus direitos e promover o desenvolvimento integral dos estudantes”, explica Elytânya Vasconcelos, psicóloga da Avic (Associação Vida e Cidadania), organização responsável pela iniciativa.

Outra organização que permanecerá de portas abertas às crianças e adolescentes no período do recesso escolar é a Associação Comunitária Olavo Bilac, localizada em Santa Cruz do Capibaribe (PE). A instituição promove o “Projeto Família Titãs” em que são oferecidos cursos profissionalizantes e de informática, além de oficinas de geração de renda aos estudantes e seus familiares.

“Neste ano, já oferecemos uma oficina de ‘Ovos de Páscoa de Colher’ e de pirulito de chocolate como alternativa de complemento à renda familiar. Estamos programando uma capacitação de design de sobrancelhas para as mães e um curso de informática para crianças”, conta Joana Darc, coordenadora do projeto.

Já no município de Afuá (PA), o projeto “Infância de Valor: Caminhos para a Educação” preparou uma programação de férias no Complexo de Atividades Emily Galdino. O espaço organizará momentos de brincadeiras com as crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e em medidas de proteção do território, oferecendo gincanas ao ar livre e disponibilizando brinquedos, como o pula-pula.

“Sabemos que o nosso município não conta com espaços de lazer, como cinemas e parques, portanto, estamos trazendo esses momentos para dentro do nosso espaço. Teremos um cinema montado aqui mesmo, com direito a pipoca, filme especial e aquele clima divertido que as crianças adoram”, explica Priscila Rodrigues, representante da organização.

Educação integral e seus benefícios
As atividades oferecidas fora da grade curricular são parte do conceito de educação integral, previsto na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Segundo o estudo “Artes e Esportes: Relação com o Desenvolvimento Humano Integral”, também conduzido pelo Itaú Social em parceria com pesquisadores da Universidade de Cambridge, práticas artísticas e esportivas realizadas dentro e fora do ambiente escolar têm impacto direto no desenvolvimento das crianças.


De acordo com a análise, atividades esportivas, por exemplo, podem promover a inclusão e o empoderamento de crianças e adolescentes. Já entre as manifestações artísticas, a música se destaca por favorecer o raciocínio espacial-temporal; a dança contribui para o desenvolvimento da persistência e da autoconfiança; e as artes plásticas estimulam diferentes formas de interpretar o mundo.

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ELAINE CRISTINA ALVES DE OLIVEIRA
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