Crianças também são parte do sagrado e a espiritualidade afro-brasileira mostra caminhos de acolhimento desde cedo

Rituais adaptados, afeto e ancestralidade ensinam que espiritualidade pode ser vivida pela infância com naturalidade e ética

Marcela Rampini | Relações Públicas - B.Repense
09/09/2025 18h31 - Atualizado há 6 horas
Crianças também são parte do sagrado e a espiritualidade afro-brasileira mostra caminhos de acolhimento desde
Foto: Reprodução | Freepik

Quando se fala em espiritualidade, ainda é comum imaginar que as crianças devam ser afastadas dos rituais ou protegidas de símbolos religiosos. No entanto, nas tradições afro-brasileiras como o Candomblé, a infância é parte fundamental da vida comunitária e espiritual. Desde cedo, meninos e meninas podem ser apresentados ao axé de forma natural, lúdica e cuidadosa, aprendendo valores que atravessam gerações.

O sacerdote Eduardo Elesu, conhece essa realidade de perto já que sua caminhada espiritual começou na infância, quando, após a perda do pai, encontrou no Candomblé o acolhimento necessário para seguir adiante. Desde os três anos de idade, ele frequenta o terreiro, e aos 16 foi iniciado por orientação do oráculo. “Eu cresci dentro da casa de santo. A espiritualidade sempre foi meu lugar de acolhimento, e foi lá que aprendi a lidar com a dor, a respeitar a vida e a encontrar sentido. Por isso, quando falo sobre crianças e espiritualidade, falo também da minha própria história”, afirma.

Para Eduardo, envolver crianças em rituais de forma adaptada não significa impor uma fé, mas oferecer referências de afeto e pertencimento. “É muito bonito quando uma criança cresce sabendo que o sagrado também é para ela. No terreiro, ela aprende a respeitar, a dividir e a acolher. Não se trata de obrigar ninguém, mas de permitir que os pequenos façam parte de algo maior, de uma família espiritual que se estende para além do sangue”, explica.

Ao contrário de contextos religiosos que reforçam o medo ou a culpa, a espiritualidade afro-brasileira oferece uma ética baseada no equilíbrio, na partilha e no respeito à natureza. Brincadeiras, músicas, histórias e pequenas oferendas podem ser apresentadas às crianças em linguagem acessível, sempre com acolhimento. “Uma criança pode bater palmas no xirê, pode ajudar a regar uma planta sagrada, pode ouvir uma história sobre os orixás. Isso já é espiritualidade em prática”, complementa.

O acolhimento também passa por compreender que cada fase da vida traz responsabilidades diferentes. Se os adultos participam de ritos mais complexos, às crianças são oferecidas experiências leves, mas profundamente simbólicas. Essa adaptação fortalece vínculos familiares e comunitários e ajuda a construir uma noção de espiritualidade menos abstrata e mais vivida no dia a dia.

“Quando uma criança aprende a pedir licença a uma árvore ou a agradecer pelo alimento, ela está exercendo espiritualidade. São pequenos gestos que se tornam valores para a vida inteira. Isso é tão ou mais importante do que qualquer ensinamento formal, porque planta presença, afeto e cuidado”, destaca o sacerdote.

Na visão de Eduardo, iniciar esse contato desde cedo não significa restringir escolhas futuras, mas ampliar possibilidades. “O papel dos pais não é impor uma fé, e sim abrir portas. Mostrar que existe um caminho de respeito, de ancestralidade, de conexão com o invisível. Mais tarde, cada um faz suas escolhas, mas cresce com raízes fortes”, afirma.

Ao ressignificar a presença das crianças nos terreiros e rituais, as religiões afro-brasileiras mostram que espiritualidade não é assunto exclusivo de adultos. É parte de uma educação mais ampla, que valoriza o corpo, o afeto e a ancestralidade como pilares para a formação de sujeitos inteiros.


Sobre Eduardo Elesu

Eduardo Elesu é sacerdote de Esù e dirigente do Ilê Odé Nlá Axé Alagbará. Sua trajetória espiritual começou na infância, marcada por experiências de dor e superação, tendo encontrado acolhimento no candomblé. Frequentador do Candomblé desde os três anos de idade, é filho da Yalorixá Siwalejó (Noemi) e de Carlos Eduardo. A perda repentina de seu pai reforçou o vínculo da família com a espiritualidade afro-brasileira. 

Iniciado em nome de Oxóssi, Eduardo sempre teve uma forte conexão com Esù, assumindo responsabilidades rituais desde jovem. Foi acolhido no Ilê Obá Ketu Axé Omi Nlá, onde se aprofundou sob a orientação do Babalorixá Rodney William. Após cumprir todas as etapas iniciáticas, foi consagrado como Elesu, sacerdote de Esù. Atualmente, como Oluwo, lidera seu próprio Ilê e é amplamente reconhecido pela precisão nos Jogos de Búzios, rituais de Ebó, encantamentos e processos iniciáticos.


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