Documentário “Lendo o Mundo” estreia no Festival de Gramado 2025

Filme de Catherine Murphy e Iris de Oliveira retrata os primeiros anos do trabalho de Paulo Freire, um dos mais respeitados e estudados educadores do planeta

NAYANNE MOURA
13/08/2025 16h58 - Atualizado há 9 horas
Documentário “Lendo o Mundo” estreia no Festival de Gramado 2025
Foto: Paulo Freire/Crédito: Maestra Productions (Divulgação)

O documentário Lendo o Mundo, das diretoras Catherine Murphy e Iris de Oliveira, terá sua estreia no tradicional Festival de Cinema de Gramado no dia 21 de agosto. O longa, uma parceria entre a Maestra Productions, dos Estados Unidos, e o Instituto Paulo Freire, integra a programação oficial do festival, que acontece entre os dias 13 e 24 de agosto.

O filme se debruça sobre os primeiros anos de trabalho do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997), um dos mais influentes pensadores da educação até os dias de hoje. No início dos anos 1960, Freire liderou um projeto experimental no Nordeste do Brasil, permitindo que centenas de adultos lessem, escrevessem e votassem. O golpe de estado de 1964, que instaurou a Ditadura Militar no Brasil, levou Freire ao exílio, onde permaneceu por 16 anos, tornando-se um dos mais respeitados educadores de todo o mundo.

Contado por meio das memórias coletivas dos alunos que participaram dos "Círculos de Cultura" e aprenderam a ler e escrever em 40 horas, em especial na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, o método revolucionário de Freire fez uso do pensamento crítico e criativo, em vez da memorização e da repetição. Com isso, milhares de brasileiros se alfabetizaram e  puderam votar – na época, analfabetos não podiam votar no país –, fortalecendo a jovem democracia brasileira.

“O método de Freire é mundialmente conhecido como de alfabetização de adultos, mas ele na verdade é muito mais do que isso”, afirma Catherine Murphy, uma das diretoras do longa. “É sobre alfabetização, mas também sobre direito a voto, direitos civis, direitos humanos, tudo o que ele definia como processo de conscientização. Nossa ideia foi justamente olhar para o nascimento desse projeto, que marcou o trabalho de Freire ao longo de toda a sua vida.”

Além de muitas entrevistas atuais, que mostram como o legado deste trabalho permanece vivo, o filme também faz um extenso mergulho em imagens de arquivo, reunindo verdadeiros tesouros recolhidos em dezenas de fontes documentais, em uma pesquisa que consumiu os dois primeiros anos do projeto. 

“Nós também buscamos fazer um retrato do contexto, o que estava acontecendo no Nordeste naquele momento, que foi uma época fascinante. Grandes movimentos sociais, grandes demandas por reformas, tentando transformar o que ainda era uma estrutura social muito colonial e feudal”, explica Catherine. “A maioria das pessoas não tinha acesso à educação. O Rio Grande do Norte tinha 70% de analfabetismo adulto. E essas pessoas eram proibidas, por lei, de votar. Era essa a realidade que eles estavam tentando mudar.”

O filme também conta com uma trilha sonora composta por expoentes da cultura nordestina, como Chico César, Bia Ferreira, Cláudio Rabeca e Quinteto da Paraíba. Para além de ilustrar, são canções que dialogam com a narrativa, auxiliando na construção daquela história sendo contada.

“O filme é um projeto coletivo, fruto do trabalho de muitas mãos, que foram lapidando essas ideias ao longo dos anos”, afirma a diretora Iris de Oliveira. “É uma tentativa muito respeitosa de apresentar o legado do Paulo Freire a partir desses primórdios, os primeiros anos. E isso é uma responsabilidade muito grande, contar essa história, tanto para quem não o conhece como para quem já conhece.”

Ela conta como o mergulho profundo nos arquivos foi ampliando a visão sobre a complexidade daquele momento, em que as nascentes lutas sociais entravam cada vez mais em choque com as forças que se organizariam em torno do golpe de estado no Brasil. Mais do que um filme sobre um tema ou uma figura, ele acaba sendo um retrato de um momento histórico fascinante de tensões e contradições.

“Nós fomos entendendo como aquele trabalho foi uma via de mão dupla, em que os jovens educadores aprenderam tanto quanto as pessoas que estavam sendo alfabetizadas”, diz. “Isso para mim é a grande magia de trabalhar com material de arquivo, poder estabelecer essa relação dialética de perguntas e respostas com o passado, o futuro e o presente.”

Lendo o Mundo

  • Duração: 70’
  • Ano de Produção: 2025
  • Status: Pós Produção / Finalização
  • Direção: Catherine Murphy & Iris de Oliveira
  • Produção Executiva: Petra Costa, Kit Miller, T.M. Scruggs
  • Trailer: Link
  • Site: Link
     

Sobre as diretoras

Catherine Murphy é uma documentarista independente e fundadora da Maestra Productions. Seus filmes tem foco na intersecção entre artes, educação e movimentos sociais. Seu primeiro filme, MAESTRA, explora as histórias das mulheres mais jovens que participaram da Campanha de Alfabetização de Cuba em 1961. Foi selecionado para distribuição pela Women Make Movies, traduzido para seis idiomas e continua sendo exibido com frequência 15 anos após seu lançamento. Seus arquivos estão guardados na Universidade da Carolina do Norte. Quatro contos baseados em suas entrevistas foram publicados no penúltimo livro de Eduardo Galeano, Espejos.

Iris de Oliveira Formada em Cinema, atua na área de audiovisual há mais de 20 anos. Possui experiência profissional em montagem (12 longas metragens), elaboração de projetos para audiovisual, criação de roteiro, arte-educação, fotografia, publicidade, TV e WEB. Dirigiu o documentário "ACERVO ZUMVI - O Levante da Memória", sobre o trabalho do fotógrafo Lázaro Roberto. Co-direitora de "As Travessias de Letieres Leite". Pesquisadora do gênero Documentário, Cinema Experimental, Arte Contemporânea, Midia-ativismo e Cinema Negro.

Sobre a Maestra Productions
Maestra Productions conta histórias reais sobre alfabetização, destacando quem ensina, quem aprende e as lutas por justiça educacional. Com foco nas interseções entre raça, classe e gênero, a produtora vê a alfabetização como um direito humano e pilar da democracia. Por meio da narrativa documental, constrói um arquivo vivo de histórias que conectam alfabetização e movimentos de justiça social nas Américas.


Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
NAYANNE MARIA DOS REIS MOURA
[email protected]


Notícias Relacionadas »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? Fale conosco pelo Whatsapp