Efeitos climáticos extremos viram gatilho de crise no agronegócio e impactam recuperação judicial

18/09/2025 14h46 - Atualizado há 3 horas
Efeitos climáticos extremos viram gatilho de crise no agronegócio e impactam recuperação judicial
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Secas prolongadas, geadas fora de época e enchentes devastadoras. Os efeitos climáticos extremos, cada vez mais frequentes no Brasil, estão se consolidando como um dos principais gatilhos de crise no agronegócio, trazendo reflexos não apenas econômicos, mas também jurídicos. Além de agravar dívidas e comprometer o fluxo de caixa de produtores, esses eventos têm influenciado pedidos de recuperação judicial e a contratação de seguros agrícolas.

 

Segundo especialistas, a quebra de safra ou a perda da capacidade de honrar contratos com fornecedores, tradings e instituições financeiras é hoje uma das maiores causas de inadimplência no campo. Em muitos casos, os eventos climáticos são utilizados como argumento central em processos de recuperação judicial, seja para justificar a renegociação de dívidas, seja para pleitear condições diferenciadas na reestruturação.

 

A advogada Ana Franco Toledo, sócia do escritório Dosso Toledo Advogados, explica que a questão climática já começa a aparecer de forma recorrente nas disputas judiciais do setor.

 

- “Produtores rurais estão cada vez mais expostos a eventos extremos. Quando uma safra inteira é perdida por seca ou enchente, não se trata apenas de prejuízo pontual, mas de uma quebra na cadeia de pagamentos. Esses casos chegam ao Judiciário com pedidos de recuperação, que muitas vezes trazem como fundamento justamente a imprevisibilidade do clima e o impacto direto nos contratos firmados”, destaca Ana.

 

Já o advogado Paulo Eduardo Faria Barretto, também do Dosso Toledo Advogados, acrescenta que os efeitos climáticos podem gerar novos precedentes jurídicos.

 

“O Judiciário vem analisando de forma mais atenta a relação entre riscos climáticos e a capacidade de pagamento dos produtores. Em alguns casos, decisões já reconheceram a força maior causada por enchentes ou geadas como justificativa para flexibilização contratual. Isso tende a se consolidar como argumento relevante em recuperações judiciais do agronegócio”, explica Barretto.

 

Outro reflexo é o aumento da procura por seguros agrícolas, que podem mitigar perdas e evitar a judicialização. No entanto, muitos produtores ainda não contam com cobertura adequada, seja por desconhecimento, seja pelo custo das apólices.

 

Para a advogada Ana Franco Toledo, o cenário aponta para um duplo movimento: de um lado, a necessidade de políticas públicas e instrumentos financeiros que deem maior proteção ao setor; de outro, uma evolução na interpretação jurídica de como eventos climáticos afetam a capacidade de pagamento e os contratos rurais.

 

Enquanto isso, as variações extremas de clima seguem impondo desafios ao campo e à Justiça, mostrando que o agronegócio brasileiro precisará se preparar cada vez mais para lidar com um futuro marcado por incertezas ambientais e jurídicas.


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