*Por Marcos Jorge
Quando se trata de desenvolvimento de municípios, as iniciativas que aliam poder público, expertise privada e interesse de investidores têm boas chances de sucesso. É essa a receita que explica o êxito da multipropriedade de imóveis, que já se provou um impulsionador do turismo e da geração de emprego e renda em algumas regiões do Brasil. O formato nasceu na França no pós-guerra, como uma resposta à necessidade de reconstruir áreas devastadas.
Nesse modelo, a propriedade é compartilhada por vários donos. Na prática, eles adquirem frações (cotas) do imóvel, do qual podem usufruir em datas determinadas do ano, proporcionais ao valor pago para a compra das respectivas frações. Além das datas, os donos do imóvel também rateiam os custos fixos e de manutenção. Por isso, a multipropriedade é ideal em regiões paradisíacas ou com potencial turístico, permitindo o uso do imóvel para hospedagem de turistas.
Há vários exemplos bem-sucedidos, como a cidade de Orlando, na Flórida, campeã em quantidade de empreendimentos multipropriedade. No Brasil, um dos casos mais emblemáticos é o de Olímpia, município paulista de 55 mil habitantes. Ainda no mercado brasileiro, também são destaques mega complexos em Caldas Novas, em Goiás, Armação dos Búzios, no Rio de Janeiro, em Aquiraz, no Ceará, e em Gramado, na serra gaúcha.
O poder que a multipropriedade tem para desenvolver uma cidade passa pelo fato de incentivar um fluxo constante de turistas. Como cada proprietário de cota tem direito a usar o imóvel por um período (a depender da quantidade de frações em que o imóvel foi “dividido”), o município pode contar com a presença dos visitantes durante todo o ano – deixando de depender dos períodos de alta temporada. Com essa previsibilidade, o varejo, as agências de turismo, os restaurantes, bares e demais integrantes da cadeia do turismo podem planejar investimentos e contratar mão de obra. É criação direta de emprego e renda, além de arrecadação de impostos para os cofres municipais.
Do ponto de vista do comprador, a multipropriedade é uma forma de diversificação de investimentos no mercado imobiliário. Além de demandar um desembolso bem menor para a aquisição de frações em comparação ao valor pago na compra integral de um imóvel, a liquidez é maior. Ou seja, em caso de venda das frações, a negociação costuma ser facilitada, pois o valor de venda é menor em relação ao preço integral do imóvel - e a compra das frações pode ser feita por proprietários que desejarem garantir mais datas para o uso.
O estudo Cenário de Desenvolvimento das Multipropriedades no Brasil, da Caio Calfat Real Estate Consulting, o valor geral de vendas (VGV) no Brasil somou R$ 79,5 bilhões em 2023, representando alta de 33% na comparação com o registrado em 2022. No final de 2023, havia no país 200 empreendimentos multipropriedade, em 89 cidades de 19 Estados. Nos EUA, país que tem o maior mercado desse modelo, são 2,5 mil.
Em 2023, a multipropriedade chegou a novos destinos turísticos brasileiros: Atibaia (SP); Maragogi e Barra de São Miguel (AL); Conde (PB); Porto Belo, Itá e Tijucas (SC); e São Francisco de Paula (RS). O modelo pode, ainda, ser uma alternativa para a reconstrução de áreas do Rio Grande do Sul atingidas pela tragédia das chuvas de maio passado, já que o Estado tem diversas regiões com vocação turística. Atuando no sul do País, inclusive, é reconhecida a Gramado Parks, que tem um catálogo com imóveis de multipropriedade em várias localidades. Outros exemplos são o Lagoa Eco Towers, em Caldas Novas (GO), Golden Tulip Gravatá (PE) e Livyd Angra dos Reis (RJ).
Muitas cidades brasileiras que nem sequer são lembradas pelos viajantes podem passar a fazer parte do mapa do turismo ao adotar a multipropriedade. Mas, para isso, é necessário um esforço conjunto. Até porque o resultado dessa equação é positivo para todos os envolvidos: as cidades têm melhora socioeconômica, os investidores diversificam os portfólios, os empreendedores criam mais projetos e as prefeituras podem aumentar a arrecadação. Um ganha-ganha em que vale a pena apostar.
*Marcos Jorge é CEO da RTSC Holding