03/09/2022 às 15h00min - Atualizada em 03/09/2022 às 15h00min

“Os ossos da saudade” estreia dia 15 de setembro

 

Existe uma tese linguística que defende que a palavra SAUDADE – que define de maneira tão precisa o sentimento de falta - só existe na língua portuguesa porque, durante o período das navegações, os lusitanos eram grandes viajantes. Seres errantes que cruzavam os mares por meses, anos e, até mesmo, décadas, deixando para trás sua terra e sua gente.

 

Lançando mão de uma narrativa fragmentada, que segue os imprecisos e pouco nítidos territórios da memória, “Os Ossos da Saudade” nos apresenta um panorama sobre singularidades e semelhanças culturais, afetivas e existenciais presentes em distintas pessoas que dividem conosco seus atos de recordar. 

 

O filme mergulha no interior de seus personagens em busca de recordações profundas. Histórias de infância, fragmentos sobre o passado, confissões cotidianas, relatos de viagem... Os cenários são muitos. Um cemitério de navios, uma igreja em ruínas, uma fábrica abandonada, um vulcão inativo, uma aldeia de pedra, uma mina desativada, uma imensa salina, um deserto, uma cidade imersa na areia, uma casa desabitada, o mar e suas profundezas... Habitando estes espaços, o filme flutua por arqueologias pessoais e afetivas, flanando por memórias e lembranças de pessoas entregues a pensamentos que não se engessam em modelos estáticos e a olhares que não se fixam em cronologias lineares ou em cartografias precisas. 

 

“Os Ossos da Saudade” é um filme sobre a ausência, narrado a partir das vivências de pessoas que experimentam sentimentos de falta e distância, espalhados por Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde. Brasileiros e estrangeiros atravessados pela saudade, que, de alguma forma, carregam o Brasil em seus baús interiores. 

 

Para o mineiro Marcos Pimentel, os últimos 20 anos em que passou a maior parte do tempo viajando, na estrada, trabalhando com cinema documentário e sendo obrigado a encontrar estratégias para sentir menos falta das pessoas e dos lugares que ficavam distantes foram matéria-prima para a realização de “Os Ossos da Saudade”.

 

Passei a conviver de forma contínua com o sentimento da saudade, que me levou a entender melhor também o que era essencial para minha constituição, o que eu dava conta de viver sem e o que não, o que eu poderia descartar e o que desejava levar comigo nos meus baús interiores para onde quer eu fosse. Me dediquei a refletir mais sobre as muitas camadas contidas em cada objeto que guardamos e nos movimentos involuntários da memória, sob os quais não temos controle nenhum e que nos surpreendem de tempos em tempos evocando acontecimentos pretéritos e pessoas que eu não via há muito tempo. Desta forma, passei a me entender melhor como indivíduo, tendo maior noção dos conteúdos que habitavam meu mundo interior. Daí, veio a vontade de fazer um filme que mostrasse pessoas espalhadas pelos países de língua portuguesa que vivessem desta mesma forma, buscando caminhos e alternativas para sentir menos saudade de lugares e pessoas que, momentaneamente ou de forma definitiva, tinham ficado para trás e que elas insistiam em manter vivas, fortes e bem acesas em seus universos interiores”, explica o diretor. 

 

Com o desafio de percorrer muitos lugares com um orçamento reduzido, a equipe do documentário filmou em cinco países e, muitas vezes, em condições adversas como tempestades em um deserto de areia, mar revolto e cheio de vento no meio do Atlântico, duras escaladas de um vulcão inativo, importunação militar constante em Angola... Muitos obstáculos e um esforço físico absurdo demandado por uma equipe mínima que não mediu esforços para chegar a estes lugares e registrar toda a potência imagética deles em harmonia com as lembranças dos personagens que os habitavam.

 

“É um filme que se dedica a filmar corpos por espaços. Então, era preciso encontrar no cotidiano dos personagens paisagens que funcionassem como metáforas para tudo que eles sentiam ou que tivessem a capacidade de evocar os sentimentos que eles tinham por lugares que estavam distantes, mas que se faziam presentes ali, naquelas paisagens próximas de suas realidades no momento em que foram registrados para o filme”, complementa Pimentel.

 

 

“Os Ossos da Saudade” estreia dia 15 de setembro nos cinemas e na plataforma de streaming Olhar Play.

 

Ficha técnica

2021 | Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde | Documentário | 107 min.

Direção: Marcos Pimentel, Roteiro: Marcos Pimentel e Ivan Morales Jr., Fotografia: Matheus da Rocha Pereira, Produção executiva: Luana Melgaço, Som direto: Bruno Vasconcelos, Montagem: Ivan Morales Jr., Edição de som e mixagem: Bruno Vasconcelos, Empresas produtoras: Tempero Filmes e Anavilhana, Distribuidora: Olhar Distribuição

 

Sinopse: Um filme sobre a ausência, narrado a partir das vivências de pessoas que experimentam sentimentos de falta e distância, espalhados por Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde. Brasileiros e estrangeiros atravessados pela saudade, que, de alguma forma, carregam o Brasil em seus baús interiores. O corpo, a paisagem, a memória e o tempo. Histórias e lugares construídos com recordação, esquecimento e invenção. Uma viagem pelos territórios da memória, da representação e do pertencimento.

 

 

 

 

Sobre o diretor

Marcos Pimentel é mineiro de Juiz de Fora. 

Documentarista formado pela Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños (EICTV – Cuba) e especializado em Cinema Documentário pela Filmakademie Baden-Württemberg, na Alemanha. Também é graduado, no Brasil, em Comunicação Social (UFJF) e Psicologia (CES-JF).

 

Diretor e roteirista de documentários que ganharam 94 prêmios por festivais nacionais e internacionais e foram exibidos em mais de 700 festivais em todas as partes do mundo. Desde 2009, é professor do departamento de documentários do curso regular da Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños (EICTV – Cuba).

Vive e trabalha em Belo Horizonte. “Os ossos da saudade” é seu 4º filme de longa-metragem.

 

Sobra a Olhar Distribuição

A Olhar Distribuição nasceu do desejo de buscar a pluralidade de experiências, de visões de mundo, de mostrar a diversidade que existe no contexto em que vivemos. Cada filme tem um universo próprio, repleto de cores, texturas, sorrisos, dilemas e culturas singulares. Nosso objetivo é respeitar cada obra e transpor as fronteiras que limitam os mundos ficcionais e reais, e levá-las a outros olhares, cercados de realidades distintas, a fim de sensibilizar e provocar a reflexão. 

Os filmes já distribuídos pela Olhar são: “Meu Corpo é Político”, “A gente”, “Ferrugem”, “Homem Livre”, “António Um Dois Três”, “Eleições”, “Dias Vazios”, “A Parte do Mundo que Me Pertence”, “Rafiki”, “Fernando”, “Meu Nome é Daniel”, “Nóis por Nóis”, “Alice Júnior”, “A Mesma Parte de um Homem”, “Mirador”, “Jesus Kid’, “Os Primeiros Soldados”, “Los Conductos”. 


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