A leitura como direito e o seu impacto no desenvolvimento das crianças

Pesquisa revela que apenas 45% das creches e pré-escolas realizam momentos de leitura

Elaine Alves
23/04/2025 11h58 - Atualizado há 2 horas
A leitura como direito e o seu impacto no desenvolvimento das crianças
Itaú Social/Divulgação
A leitura na primeira infância é um direito essencial para o desenvolvimento integral das crianças. Entre o nascimento e os cinco anos, o ser humano atravessa uma fase peculiar de desenvolvimento, em que cada experiência e estímulo recebido influencia o aprendizado, fortalece habilidades cognitivas, sociais e emocionais, e contribui para a construção da identidade. Ter acesso aos livros desde cedo fortalece a linguagem, amplia a capacidade de comunicação e estimula a imaginação e o pensamento crítico. No entanto, para muitas crianças, essa vivência ainda é inacessível, reforçando as desigualdades desde os primeiros anos de vida.

Neste Mês do Livro Infantil, que celebra o Dia Nacional do Livro Infantil (18) e o Dia Mundial do Livro (23), é fundamental reafirmar a necessidade de garantir que todas as crianças, independentemente de sua origem ou condição socioeconômica, tenham acesso à literatura desde a etapa inicial da vida. Isso exige políticas públicas e iniciativas que assegurem a presença dos livros e promovam a leitura como parte da rotina das famílias e instituições de Educação Infantil.

"Ler na infância vai muito além de decifrar palavras — é garantir que todas as crianças tenham o direito de se relacionar com a linguagem escrita e a literatura de maneira significativa, prazerosa e contextualizada. Quando uma criança tem acesso aos livros e ao estímulo da leitura, ela expande seu repertório, desenvolve habilidades socioemocionais e fortalece sua capacidade de compreender o mundo. Garantir esse direito, nessa perspectiva, é repensar as concepções de educação, reconhecendo-a como um compromisso com o desenvolvimento integral das crianças", destaca Cláudia Sintoni, gerente de Implementação do Itaú Social.

No início de 2024, o MEC (Ministério da Educação) lançou uma consulta pública para atualizar os “Parâmetros Nacionais de Qualidade da Educação Infantil”. A iniciativa contou com a participação de 1.717 instituições de todas as regiões do país, que enviaram mais de 2.230 contribuições. 

O novo documento, elaborado com o apoio de mais de 30 mil representantes da sociedade civil, destaca que o direito à leitura na Educação Infantil deve se fundamentar em duas dimensões essenciais: pedagógica e estrutural. Do ponto de vista pedagógico, a interação das crianças com os livros deve ser incentivada desde os primeiros anos, promovendo o letramento, a criatividade e o pensamento crítico. A mediação qualificada por educadores é essencial nesse processo. Em termos estruturais, é fundamental que os espaços de Educação Infantil disponham de um acervo diversificado e acessível, permitindo que as crianças tenham contato com os livros de maneira autônoma e exploratória.

Apesar da importância de ler na primeira infância, a pesquisa "Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: um retrato pós-BNCC",  realizada pela FMCSV (Fundação Maria Cecília Souto Vidigal), LEPES (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social) da USP e o Movimento Bem Maior, com apoio do Itaú Social, revela que apenas 45% das turmas de Educação Infantil no Brasil realizam atividades de mediação de leitura de histórias. Desses, 5% o fazem sem intencionalidade pedagógica.

Os dados também apontam que, embora 83% das unidades de Educação Infantil possuam livros de histórias, apenas 10% oferecem acesso livre às crianças. Além disso, 39% das turmas de creches e pré-escolas não incluem atividades literárias na rotina, e somente 27% promovem momentos de leitura compartilhada.

Leia com uma criança
Diante desse cenário, o Itaú Social tem atuado para apoiar ações que assegurem o direito à leitura na infância. Por meio do “Leia com uma criança”, que completa 15 anos neste ano, serão distribuídos cerca de 1,1 milhão de livros para creches e pré-escolas das redes municipais de ensino da região Nordeste, beneficiando diretamente crianças de 1.793 cidades. Os exemplares já estão sendo entregues às secretarias municipais de Educação.

A iniciativa faz parte do apoio ao Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, do governo federal, que busca ampliar os acervos literários e incentivar a leitura desde a Educação Infantil. O "Leia" foi o primeiro programa a receber o Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura e tem um histórico expressivo: mais de 63 milhões de livros de literatura infantil distribuídos para famílias, organizações da sociedade civil e redes públicas de ensino em todo o país.

Além do envio de acervos, o Itaú Social investe na formação de mediadores de leitura por meio de conteúdos formativos on-line na página do Leia com uma criança. O site disponibiliza cursos, conteúdos de interpretação, podcasts e um catálogo de obras audiovisuais acessíveis, direcionados a pessoas com deficiência e seus responsáveis ou curadores. Os cursos são voltados para educadores, bibliotecários e outros profissionais interessados em aprimorar suas práticas pedagógicas. 

Desafios
A pesquisa "Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: um retrato pós-BNCC" analisou 3.467 turmas em 12 municípios brasileiros e apontou ainda:
  • Práticas de linguagem: Em 92% das turmas observadas, as ações mais presentes e com maior qualidade são as que apresentam oportunidades de aprendizagens por meio de práticas como conversar, narrar, argumentar e brincar com rimas;
  • Autonomia infantil: Em 45% delas, as crianças participam de forma autônoma, ativa e aberta;
  • Lacunas em leitura e escrita: Práticas de aprendizagem com leitura e escrita, e oportunidades relacionadas à participação das crianças na organização das atividades cotidianas não ocorreram em uma parcela compreendida entre 39% e 49% das turmas;
  • Protagonismo e brincadeiras: 39% das turmas ainda apresentam grande potencial para melhorar o uso de estratégias que promovam o protagonismo infantil por meio do brincar;
  • Brincadeiras livres: 42% das turmas não oferecem momentos de brincadeira autônoma em espaços organizados pelos professores.
"Investir na formação dos educadores é fundamental, porque a leitura na primeira infância não se resume apenas em contar histórias. É um processo rico, em que cada palavra, imagem e gesto contribuem para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social das crianças. Um educador bem preparado é capaz de escolher o livro certo, no momento certo, e transformar esse encontro em uma experiência significativa, que deixa marcas duradouras. A leitura, nesse período da vida, é um momento de conexão, de descoberta e de construção de sentidos — e tudo isso começa com o olhar sensível e intencional de quem media esse vínculo com os livros”, pontua Cláudia.

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ELAINE CRISTINA ALVES DE OLIVEIRA
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