Racismo, machismo e LGBTfobia: as feridas invisíveis que impactam a saúde mental e encontram acolhimento na terapia

29/06/2025 20h40 - Atualizado há 8 horas
Racismo, machismo e LGBTfobia: as feridas invisíveis que impactam a saúde mental e encontram acolhimento na
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Os impactos do racismo, do machismo e da LGBTfobia vão muito além das estatísticas de violência ou exclusão social. Essas formas de opressão estrutural deixam marcas profundas e silenciosas na saúde mental de milhões de pessoas, que convivem com sentimentos crônicos de invalidação, medo e culpa. Em meio a esse cenário, a psicoterapia tem se mostrado um espaço fundamental de acolhimento, reconstrução da autoestima e fortalecimento da identidade.

 

Segundo a psicoterapeuta Teresa Lapaz, que há mais de duas décadas atua com escuta clínica focada em temas de identidade, diversidade e sofrimento psíquico, o impacto dessas violências sociais é constante, mesmo quando não explícito.

 

- “Muitas pessoas chegam ao consultório carregando dores que não são só suas, mas da história da sua comunidade, da cor da sua pele, da sua orientação sexual ou do seu gênero. Essas dores são normalizadas pela sociedade, mas causam sofrimento psíquico profundo,” explica Teresa.

 

A dor que não se vê

 

As microagressões — aquelas frases sutis, olhares de julgamento, piadas disfarçadas ou exclusões não ditas — são exemplos de como essas formas de opressão se manifestam no cotidiano. Ao longo do tempo, elas podem se somar em um quadro de ansiedade, depressão, síndrome do impostor ou até adoecimento físico, como insônia e crises de pânico.

 

- “Não se trata apenas de um evento traumático. Trata-se de um acúmulo silencioso, de uma vivência constante de que você não pertence, de que precisa se provar o tempo todo, ou de que está errado por ser quem é,” ressalta Teresa Lapaz.

 

No ambiente terapêutico, o acolhimento dessas vivências exige mais do que técnica. É preciso sensibilidade, repertório e um posicionamento ético do profissional.

 

- “A psicoterapia não pode ser neutra diante de violências estruturais. Escutar alguém que sofre por ser alvo de racismo, machismo ou LGBTfobia exige empatia ativa, validação da dor e também um compromisso com o enfrentamento dessas opressões,” afirma a psicoterapeuta.

 

Reescrevendo narrativas

 

A psicoterapia permite que o paciente reconstrua a própria história, resgate sua autoestima e fortaleça sua identidade diante de uma sociedade que frequentemente tenta silenciá-lo.

 

- “Na terapia, a pessoa pode, pela primeira vez, se ouvir de verdade, sem medo de julgamento. Pode entender que a dor que sente não é fraqueza, mas resposta a um mundo que insiste em apagá-la,” diz Teresa Lapaz.

 

- “Esse espaço de escuta e cuidado pode ser profundamente transformador. Ele devolve a potência e a liberdade de ser,” completa.

 

A especialista também lembra que a busca por saúde mental não pode ser apenas individual. É preciso que instituições, empresas, escolas e a sociedade como um todo repensem seus valores, práticas e discursos.

 

- “O sofrimento psíquico de populações marginalizadas não é uma questão individual. É social. Precisamos trabalhar para que menos pessoas precisem se curar da violência de viver em um mundo que não as acolhe,” conclui Teresa Lapaz.

 

 


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