Grace Gianoukas vive Dercy Gonçalves em espetáculo em cartaz no MorumbiShopping até 26/08

Com voz off de Miguel Falabella, o espetáculo que presta homenagem à icônica Dercy Gonçalves e rendeu prêmios à atriz e ao autor e diretor Kiko Reiser, começa a se despedir dos palcos

Alisson Schafascheck
29/07/2025 14h18 - Atualizado há 1 dia
Grace Gianoukas vive Dercy Gonçalves em espetáculo em cartaz no MorumbiShopping até 26/08
Foto: Heloísa Bortz
O premiado monólogo Nasci pra ser Dercy, estrelado por Grace Gianoukas e escrito e dirigido por Kiko Rieser, presta uma homenagem a Dercy Gonçalves, uma das maiores atrizes do século 20. Desde a estreia, em 2023, o espetáculo – visto por mais de 40 mil pessoas – é enorme sucesso de crítica e público por onde passa e agora volta à São Paulo, no Teatro Multiplan MorumbiShopping, encerrando essa temporada de dois anos e abrindo espaço em sua agenda para novos projetos.
O espetáculo, produzido pela Ventilador de Talentos, rendeu à Grace Gianoukas os prêmios SHELL e APCA de melhor atriz (2024) e I Love PRIO do Humor, de melhor performance. Já o diretor Kiko Rieser conquistou o Prêmio Bibi Ferreira (2023), na categoria Melhor Dramaturgia Original. O espetáculo ainda foi indicado aos prêmios CENIM (Melhor Monólogo) e Miguel Arcanjo (Melhor Direção, Peça e Atriz).
Grace conta que, quando nasceu, o Brasil já gargalhava com Dercy Gonçalves e que, na medida que ia crescendo, passou a conhecer melhor seu trabalho no cinema, na TV, em suas participações memoráveis nos programas de auditório.
“No final dos anos 80, a partir de uma sugestão da atriz Christiane Tricerri, fui convidada pelo Jornal da Tarde para, ao lado de outras atrizes comediantes, assistir ao show de Dercy no teatro e conversarmos com ela no final. Foi ótimo! Ela nos tratou com muito carinho e disse uma coisa que eu nunca mais esqueci: ‘Evitem ficar tirando a roupa em qualquer trabalho. Enquanto vocês são jovens, muitas vezes a nudez é só exploração da imagem feminina, é só chamariz, não tem nada de arte. Deixem pra ficar nuas quando tiverem a minha idade. Uma velha nua é uma transgressão, traz questionamento, e isso é arte’, lembra Grace. “Convivi com várias mulheres de sua geração e sei dos horrores de moralismo, machismo e opressão social que elas passaram, e por isso admiro Dercy profundamente, pela força, inteligência, empreendedorismo e extraordinário talento como atriz, autora e produtora”, conclui.
Com o convite de Kiko Rieser para atuar em Nasci pra ser Dercy, Grace teve a oportunidade de pesquisar e conhecer melhor Dolores Gonçalves Costa, que, assim como ela, nasceu numa cidade do interior, onde muitas vezes se sentia extremamente deslocada e incompreendida. “No entanto, ao contrário de mim, que sempre tive o apoio da minha família, ela teve que enfrentar o mundo sozinha, sem nenhuma orientação, amparada apenas pela força de sua alma em expansão. Essa alma, guiada pelo seu desejo de liberdade e conhecimento, ela batizou como Dercy Gonçalves, uma grande guerreira que transformou sua dor em alegria para o povo brasileiro.”
Já o autor e diretor Kiko Rieser conta que, quando criança, queria que Dercy fosse sua avó. Quem não gostou disso foi sua avó Daisy, que “ficou ofendidíssima, ou ao menos fingiu que ficou, como se eu quisesse substitui-la”. “Na minha cabeça – e foi isso que respondi – a coisa era simples: tendo apenas uma avó, havia ainda um outro posto vago, que poderia ser ocupado por aquela velhinha que me encantava com sua autenticidade e seu despudor em soltar verdades e palavrões conforme lhe vinham à cabeça. Acho que nunca havia visto até então, como tampouco vi depois, uma pessoa tão autêntica quanto Dercy Gonçalves”, relata Kiko, que é parte da última geração que Dercy atravessou e influenciou em sua vida intensa e prolífica. “É claro que descobrir uma senhora emplumada no alto de seus 90 anos mandando ‘tomar no cu’ quem lhe desse na telha e se dirigindo ao presidente da República com um ‘ô, cara’ tinha um sabor especial de transgressão. O estigma da ‘velha louca que fala palavrão’ me fascinou.”
Mais tarde descobriu como essa definição era redutora, e até mesmo falsa, “porque de louca Dercy não tinha nada. Pelo contrário, tinha consciência e método de sobra.” E foi só depois de assumir o palco como ofício, que Kiko compreendeu a verdadeira dimensão de Dercy Gonçalves: uma mulher que revolucionou a cena brasileira e abriu caminhos para a autonomia feminina. “É surpreendente que, 17 anos após sua morte, ela ainda não tinha sido homenageada no palco que tanto amou. Nasci pra ser Dercy é mais do que uma homenagem: é um resgate histórico e um gesto de gratidão a quem pavimentou o caminho para que hoje sejamos quem somos. Obrigado, Dercy!”, finaliza o autor.
Dercy Gonçalves (23/06/1907 – 18/07/2008) faleceu aos 101 anos, sem nunca ter sido homenageada nos palcos brasileiros. Até agora.A peça Nasci pra ser Dercy celebra, pela primeira vez no teatro, a trajetória de uma das artistas mais singulares do Brasil. Unindo o carisma popular de Dercy a uma pesquisa profunda, o espetáculo destaca sua importância para o teatro nacional e para a liberdade feminina.
Dercy foi uma mulher de contrastes: desbocada em cena, mas recatada na vida pessoal – chegou a se casar e enviuvar ainda virgem. Contestadora da censura durante a ditadura militar, recusava-se a levantar bandeiras políticas, defendendo apenas a liberdade plena e o respeito à diversidade.
Consagrada como vedete do Teatro de Revista, sua maior contribuição veio ao reinventar a comédia popular, rompendo padrões e inaugurando uma linguagem cênica autenticamente brasileira. Embora amplamente reconhecida, Dercy ainda é pouco compreendida. Como define o autor Kiko Rieser, “foi chamada de louca, puta, santa, ícone – mas era, acima de tudo, uma mulher grandiosa, inclassificável e única”.

Sinopse
A peça começa com uma atriz, Vera, entrando no estúdio para fazer teste para o papel de Dercy Gonçalves em um filme. Conforme vai dando suas falas, ela se revolta contra o roteiro, cheio de estereótipos. Sua mãe era grande fã de Dercy e por isso Vera cresceu conhecendo e sendo influenciada pelo exemplo dessa artista icônica. Ela então, transformando-se em Dercy, começa a mostrar quem realmente foi essa mulher à frente de seu tempo.

SERVIÇO
Nasci pra ser Dercy
Local: Teatro Multiplan Morumbi Shopping
Endereço: Av. Roque Petroni Júnior, 1.089, Jardim das Acácias – Piso G2, com acesso pelas escadas rolantes em frente à Renner
Data: até 26 de agosto
Horário: às terças-feiras, 20h30
Duração: 80 minutos
Classificação: 14 anos
Capacidade: 260 lugares
Ingressos: R$ 140 (inteira), R$70 (meia/convênio)
Atendimento/bilheteria: Nos dias de espetáculo, 2h antes do início da sessão.
Agendamento para grupos (com preços especiais): [email protected]
Pela internet: https://bileto.sympla.com.br/event/108336/d/328029/s/2241580

FICHA TÉCNICA
Texto e direção: Kiko Rieser
Atriz: Grace Gianoukas
Voz off: Miguel Falabella
Diretor de Produção: Paulo Marcel
Técnico de luz: Jânio Silva
Técnico de som: Éder Sousa
Contra regra/camarim: Venício Alvarenga
Cenário e figurino: Kleber Montanheiro
Desenho de luz: Aline Santini
Trilha sonora original e arranjos: Mau Machado
Canção-tema “Só sei ser Dercy”: Danilo Dunas e Pedro Buarque
Visagismo: Eliseu Cabral
Assistência de direção: André Kirmayr
Preparação corporal: Bruna Longo
Preparação vocal: André Checchia
Assistência de figurino: Marcos Valadão
Cenotécnica: Evas Carreteiro
Design gráfico: Pierre da Rosa
Assessoria de imprensa: Vicente Negrão Assessoria
Mídias sociais: Pierre da Rosa
Fotos: Heloísa Bortz (estúdio) Priscila Prade (cenas/palco)
Realização e Produção Nacional: Ventilador de Talentos
Produção associada: Rieser Produções
 

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