Divulgação Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho - parceria entre o Ministério Público e o Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para o Brasil, divulgados no fim de março, mostram que, em 2022, problemas de saúde mental e comportamental afastaram 9.570 trabalhadores, representando 7% do total de afastamentos.
O impacto à saúde mental traz abalos de efeito cascata, ressalta o cardiologista Fernando Nobre. “O não estar bem mentalmente mexe com todo o organismo. No que diz respeito ao coração, pesquisas publicadas nos últimos anos mostram como o estresse, por exemplo, impacta diretamente o sistema cardiovascular”, fala.
Quando a saúde mental não vai bem, o corpo fica tenso e, com isso, aumenta a liberação de determinados hormônios, como adrenalina e cortisol. Em excesso no organismo, essas substâncias provocam instabilidade, elevam a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos, fatores de risco para o infarto ou o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
“Há indícios de que o estresse psicológico crônico pode ser tão ou até mais prejudicial ao coração do que outros fatores de risco tradicionais, como a obesidade, hipertensão arterial ou o consumo de álcool”, fala. Nas pessoas que já têm a saúde cardiovascular debilitada, o estresse mental pode superar o estresse físico, potencializando o risco de ataques cardíacos e problemas similares”, completa.
Um dos estudos sobre os impactos de fatores de risco para determinação de infarto do coração, chamado InterHeart, demonstrou que o estresse psicossocial pode determinar até três vezes mais chance de um infarto do coração.
Mais recentemente, a espiritualidade entendida como “o aspecto dinâmico e intrínseco da humanidade, pelo qual as pessoas buscam significado, propósito e transcendência e experimentam relacionamento com o eu, a família, os outros, a comunidade, a sociedade, a natureza e o significativo ou sagrado”, também exerce papel fundamental para o aparecimento de doenças cardiovasculares ou seus agravamentos, se já presentes.
O médico, que é especialista em hipertensão arterial, explica que o estresse durante longos períodos impacta diretamente a pressão arterial, podendo causar a hipertensão. “É uma condição silenciosa, por isso é importante a atenção aos primeiros sinais de que o estresse se tornou crônico, quadro esse no qual a pessoa pode se tornar incapaz de relaxar, desenvolvendo ansiedade e depressão”, pontua.
Ação das empresas O Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental dentro de um ranking com 64 países, segundo a mais recente edição do relatório anual do Estado Mental do Mundo, divulgado em março. O levantamento, encomendado pela organização de pesquisa sem fins lucrativos Sapiens Labs, mostrou ainda que a população global não recuperou o declínio no bem-estar psíquico observado durante a pandemia da Covid-19.
Diante deste cenário, Fernando Nobre frisa que as empresas têm papel fundamental na promoção da humanização e bem-estar de seus colaboradores, auxiliando, assim, para a diminuição de impactos à saúde mental. “O universo corporativo precisa trabalhar com iniciativas que mostrem aos seus funcionários o quanto a companhia se importa com ela, a reconhece e a valoriza”, diz. “Nos Estados Unidos, por exemplo, 30% das empresas oferecem, no trabalho, sessões grátis de terapia. Outra medida é a criação de um ambiente corporativo saudável, com atividades laborais e de lazer em dias estabelecidos, enfim, ações como essas aumentam o engajamento dos colaboradores, retêm talentos e diminui os custos envolvidos em afastamento”, completa.
O especialista salienta, ainda, que as empresas também devem atentar-se aos colaboradores para identificar situações e ajudá-los. “Boa parte das pessoas escondem seus problemas por medo de serem julgadas, demitidas, mas quanto mais isso fica reprimido, mais danos traz. A falta de preparo social quanto à saúde mental e o bem-estar social fazem com que as pessoas acumulem demandas mentais sem a devida atenção até que o adoecimento se manifesta clinicamente”, pontua.
Uma situação atualmente definida e identificada como Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. “Então, é importante observar a equipe e havendo algum sinal de que aquele funcionário não está bem, mostrar que ele não está só e auxiliá-lo. A saúde mental é parte da saúde integral”, conclui.